PRÓ-MEMÓRIA DO ALMOÇO CONVÍVIO NA MESSE DE CASCAIS
Remeter o botão de âncora à
simples condição de ocupante da casa que serve, com especial apreço,
simbolizando a ancoragem em porto seguro, servir causas sem olhar a danos, dar
ao corpo a união e a elegância que a vida naval exige, tem duplo significado,
dar corpo a elegância devida, dar à corporação a referência para o espírito de
corpo consolidar. Na Marinha de Guerra Portuguesa, assim significa, assim se
sente!
Ode marítima, ode terrestre, vidas
cruzadas profusamente narradas pelos contadores-mor do reino, dos navegadores e
suas descobertas, dos exploradores e suas travessias, do Infante D. Henrique ao
Hermenegildo Capelo, a história resta, sendo expoente, os Lusíadas tão bem
selecionada e entregue, vencida a tormenta logo juramentada. A escola que
frequentamos, tem no botão de âncora selo dourado do espírito de grupo que a
identifica, na espada símbolo do poder e nos Lusíadas o orgulho no
passado.
Limites, de idade ou de carreira,
limites que desafiam os que servem, limites que todos têm, por opção ou por
devoção, nem a todos dão conta, nem todos premeiam, no entanto, em todos
estimulam o que melhor a organização contém. A camaradagem, cimento do tormentoso
sulcar dos mares e rios, se aos meios e unidades transcorridos, tem base de
experimentação crescente consoante carreira mais tarde recordada, mais tarde
arauto das vagas vencidas, sempre, aos olhos de Neptuno. Estranha forma de
estar, estranho perfume, essência de uma vida que se esgota em horizonte em
constante mutação, agora com o aposento de uma vida rica de memórias.
Messe, aprazível recolhimento,
escada vencida, degrau a degrau, tal como as missões anotadas, assentadas e
recordadas, eis o momento, eis o pretexto para, sessenta anos decorridos após a
escolha, após a prova, ao Alfeite atracar!
Do Palácio do Alfeite ao Palácio
Seixas, sessenta anos distaram, sessenta anos dando expressão à família, à
família de sangue, famílias que, por vezes, ao social se rendiam esbatendo
fronteira que se quer vincada. As comissões de serviço, embarcado ou em terra,
davam territorialidade ao botão de âncora, remetiam as famílias para a condição
de emigrantes, confinavam sentimentos acentuavam a saudade, tão nossa tão
lusitana, talvez por isso e não só, toca a reunir com pretextos diversos, e
este, O DIA DO HC, dá às famílias oportunidade para as conversas que o tempo
deu cor deu significado, constarem de episódio, mais um, de novela da vida,
novela da saudade!
Década vivida ao ritmo e compasso
do telemóvel, comemorada aos olhos da noite, noite servida por facho guiado,
cabendo à Nossa Senhora que, sendo da Guia, deu aos que do mar olham o melhor
segredo, rumo de uma vida tematizada em obra publicada. Das enxárcias do conhecimento
às enxárcias da vida, a rota tem em comum o mar tão perto e tão distante como a
ilusão que em todos habita, enxárcias da calvície, antes temida agora honrada!
Linha de costa, linha antes
percorrida na crista da onda, agora em falésia vencida, é linha ténue, pois dos
ditos pontos da costa, por vezes azimutados, década distam, de vidas honradas
vidas seladas pelos mares percorridos, antes em descoberta agora em disputa!
Honremos aqueles que, remando
contra a maré, nos deixaram! Bem hajam pelo suor vertido em cava da onda, pelo
risco assumido por causa nobre, pelo quarto em ponte alta ou convés entre
estrelas partilhado, pelas horas de câmara, entre quartos, quais homens sem
sono, persistimos em rota batida, pois estamos certos do nosso destino, orgulhosos
do passado, por vezes comum, por vezes díspar.
O colarinho, quando gomado, quando
com precisão à gola atracado como se ao cais, amarração cruzada, os ventos
domasse, à solenidade anunciava. Sessenta anos percorridos, gala anunciada, os
memoráveis, mesa marcada, às radionavais, circuitos que à saudade dão visão,
deixamos o nosso reconhecimento, pois eram placa giratória das emoções
retardadas!
Sessenta anos de maturação, como
as castas que, do envelhecimento retiram essência retiram emoção do palato
testemunha, os marinheiros e suas penélopes, tez marcada tez sabia,
exaltação ao futuro imediato, transportam o sedimento de uma vida plena de
história plena de encanto.
Trinta e dois convivas, oito mesas
de protocolo medido, com eles outros estão, pois a mente, estudada e medida, ao
infinito desafia, tal a crença que aos nossos está associada! Sente-se o desejo
da sua aparição, pois se a um tal Sebastião a crença se aplica e por desejado
ficou conhecido, por que não aos nossos que tanto amámos e de iguais se tratam?
Aos que nos deixaram, por certo precocemente, aqui fica a menção e apelo ao NÃO
ESQUECIMENTO.
Hoje, que mais uma década se
cumpre, não estamos sós, estamos com eles e não só!
Se aos cinquenta, pelas terras
vinhateiras de Palmela, a caravana HC, se tornou notada, aos sessenta, o maciço
central da Estrela foi percorrido com o propósito de dar evidência ao esforço
científico e não só, da vasta equipa, pluridisciplinar, que o país fica a dever
ao nosso patrono.
Voo ao vento (vol-au-vent),
inércia vencida, bolina cerrada, eis a gala dos sessenta de inspiração
francófona, tal como a juventude de geração rebelde, transversal aos choques de
política interna e externa. Do marisco ao magret de pato, um pequeno passo, tal
a conversa emergente, tal o voo, que, para quebrar a intensidade, só pára no
gelado em tarte de maçã, como se ao Adão, génese da vida, a vida cristã, tudo
se devesse.
Aos sobreviventes de Mansoa com a
Escola Naval no coração, a homenagem, a celebração formal decorreu a preceito
pois, palavras ditas e parabéns cantado, soou a ordem: "PEÇAS BOMBORBO
FOGO...", o bom bordo para todos desejado, com bolo e espumante!
Enfim, vestidos a preceito,
preceito que ao Carlos se deve, o tempo passa, a messe fecha, e os corações
plenos de emoção, dão vivas ao tempo passado, dão vivas a 2034, sempre com o
nosso Álvaro Gaspar a prognosticar!
VIVA O HC70
João Sadler Simões