O artigo que recentemente publicámos em
cinco capítulos, da autoria do nosso camarada Filipe Horácio Pereira Macedo, não
permitiu uma leitura seguida tendo retirado algum interesse aos seus leitores. Assim,
por sua sugestão, optamos por o reeditar numa forma global.
LIGA DOS COMBATENTES
Preâmbulo
Em Novembro de 2003 quando passei à
situação de reserva, fui chamado ao Superintendente dos Serviços de Pessoal que
me perguntou se queria prestar serviço na Liga dos Combatentes.
Como conhecia muito pouco daquela
instituição, só sabia que era para apoiar “os combatentes e seus familiares que
restavam da I Grande Guerra”, pedi para me informar mais a fundo sobre os seus
objectivos e finalidades e só passados alguns dias aceitei o “repto”.
E, como penso, que muitos camaradas
de Marinha pouco sabem do que faz a Liga dos Combatentes, lembrei-me de dar uma
ideia do que é hoje esta instituição quase secular (foi criada em 1923 por três
militares, dois do Exército e um de Marinha) que sentiram a necessidade de
apoiar os milhares de soldados que voltavam da I Grande Guerra mutilados e
estropiados e que precisavam desesperadamente de apoio médico e social, devido
às doenças e traumas sofridos durante o período em que estiveram em França.
A maior parte destes combatentes que
regressaram à Pátria (o efectivo de combatentes nesta Guerra de 1914/1918 foi
de 55.165 homens em que mais de 3000 terão morrido em combate), vinham com
gravíssimos problemas nos pulmões (gaseados) devido aos bombardeamentos com gás
que os alemães fizeram nos últimos anos de guerra e também com graves
ferimentos nos pés e pernas devido à permanência prolongada nas trincheiras com
os pés e pernas mergulhados em água e lama geladas.
Mais tarde após a Guerra do Ultramar
(1961/1975), em que estiveram envolvidos mais de 700.000 militares portugueses
e em que pereceram cerca de 10.000 homens (4000 em Angola, 3000 em Moçambique e
3000 na Guiné), o esforço da Liga passou a dirigir-se a estes antigos
combatentes que na maioria dos casos também foram abandonados à sua sorte, com
todo o tipo de mazelas físicas e psicológicas associadas aos traumas da guerra
em África.
A Liga tem actualmente mais de
50.000 sócios que estão afectos a mais de 100 Núcleos ao longo do País e do
estrangeiro, pois existem já Núcleos da Liga no Canadá (3), em França (5), em Cabo Verde e na
Guiné-Bissau.
Principais objectivos da LC
1. Promover
os valores, nomeadamente o amor à Pátria e a divulgação, em especial entre os
jovens, do significado dos símbolos nacionais, bem como a defesa intransigente
dos valores morais e históricos de Portugal;
2. Promover
o prestígio de Portugal, designadamente através de acções de intercâmbio com
associações congéneres estrangeiras;
3. Promover
a protecção e auxílio mútuo e a defesa dos legítimos interesses espirituais,
morais e materiais dos sócios;
4. Cooperar
com os órgãos de soberania e a administração pública no que respeita à adopção
de medidas de assistência a situações de carência económica dos associados e de
recompensa àqueles a quem a Pátria deva distinguir por actos ou feitos
relevantes prestados ao seu serviço.
5. Criar, manter e desenvolver departamentos ou
estabelecimentos de ensino, cultura, trabalho e solidariedade social em
benefício geral do país e directo dos seus associados.
Órgãos centrais da LC
A Liga dos Combatentes exerce a sua actividade através dos
seus Órgãos centrais e dos seus Núcleos.
São os seguintes os Órgãos
centrais:
1. Conselho
Supremo – Órgão consultivo para assuntos relacionados com a actuação,
funcionamento e organização da Instituição.
Os seus
membros são eleitos pela Assembleia
Geral e são em número igual ou superior a 10 e inferior a 20.
2. Órgãos
de eleição por mandato:
- Assembleia Geral e assembleia de
Núcleos
-
Direcção Central - Constituída por
um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário-Geral, sete vogais dos quais
dois são administrativos e um Secretário
-
Direcções dos Núcleos – constituídas
por um mínimo de 5 elementos, sendo um Presidente, um Tesoureiro e três vogais.
- Conselho Fiscal
Sócios
A Liga admite como sócios todas as
pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras que professem o
ideário da instituição e que se disponham a servi-la, contribuindo com o seu
patrocínio e o seu esforço ou auxílio monetário para a manutenção e
funcionamento da mesma.
Agrupam-se nas seguintes
categorias:
- Sócios
combatentes – os cidadãos nacionais ou estrangeiros que prestem ou tenham
prestado serviço nas Forças Armadas Portuguesas e os elementos das forças de
segurança que tenham participado em missões de defesa, de segurança, de
soberania, humanitárias e de paz ou cooperação.- Sócios efectivos – os cidadãos que prestem ou tenham prestado serviço nas Forças Armadas Portuguesas, mas que não preencham as condições referidas no nº anterior.
- Sócios extraordinários – os cônjuges, os cônjuges sobrevivos e os ascendentes e descendentes até ao 2º grau dos sócios combatentes e dos sócios efectivos.
- Sócios honorários – as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras, a quem, por mérito ou pelos serviços relevantes prestados à Pátria ou à Liga dos Combatentes, a Assembleia Geral confira esse título.
- Sócios beneméritos – as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras, a quem, por actos praticados em benefício da Liga dos Combatentes ou dos seus associados, a Direcção Central atribua essa qualidade.
- Sócios apoiantes – as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras, que apoiem de forma regular com donativos ou quotização os núcleos em que estejam filiados.
Programa de actividades
A Liga prossegue actualmente um
programa de actividades muito diversificado, em conjunto com os seus Núcleos
que está centrado em 6 grandes projectos estruturantes que são :
1. Programa Liga Solidária – pretende
centrar-se na construção de Lares de 3ª Idade e Creches para os combatentes e
seus familiares.(Já existem lares no Porto, em Coimbra e em Estremoz e existem
projectos para mais Lares que estão
dependentes de apoios financeiros).
2. Programa Cuidados de Saúde – tem por
finalidade apoiar os antigos combatentes nos cuidados médicos a prestar nos
locais ou perto das suas residências, com a criação de CAMPS- Centros de Apoio
Médico, Psicológico e Social, que são constituídos por uma equipa com um médico
de clínica geral, um psicólogo, uma assistente social e uma enfermeira que nos
Núcleos ou nas suas proximidades dão apoio aos respectivos sócios. Existem
actualmente CAMPS em Chaves, no Porto, em Coimbra, em Manteigas, em Lisboa, em
Évora, em Beja e em Loulé e ainda GAMPS (Grupos de Apoio Médico, Psicológico e
Social em Ponta Delgada ,
em Angra do Heroísmo e no Funchal).
3. Programa Cultura, Cidadania e Defesa –
é um programa centrado no Forte do Bom Sucesso que foi cedido à Liga dos
Combatentes e onde se realizam eventos de vária ordem (exposições, lançamento
de livros, colóquios, etc e onde está localizado o Museu do Combatente com
armamento e peças dos ramos das Forças Armadas e das Forças de Segurança.
Junto
ao Forte do Bom Sucesso está o Monumento aos Mortos do Ultramar em cujas
paredes estão lápides com os nomes dos dez mil portugueses que morreram em
combate pela Pátria e onde são realizadas as cerimónias de homenagem a esses
Portugueses que pereceram no cumprimento do dever. Este Monumento é alumiado
por uma chama de azeite votivo, sempre acesa, em homenagem ao soldado
desconhecido e uma guarda permanente de militares dos três ramos das Forças
Armadas (um ramo em cada mês), que realizam a cerimónia do render da guarda
perante os visitantes daquele lugar sagrado.
4. Programa Inovação e Modernização – È um
programa sempre activo, que visa actualizar e modernizar todos os Núcleos da
Liga dos Combatentes, que são já mais de 110, incluindo os do estrangeiro, com comunicações
e meios informáticos actualizados, permitindo ligar todos os Núcleos entre si e
com a sede da instituição em Lisboa.
5. Programa Conservação das Memórias – É
um programa que visa recuperar as ossadas de milhares de soldados que morreram
ao serviço da Pátria e que ficaram sepultados nos territórios em que pereceram.
Estima-se em mais de 2000 os corpos inumados nos antigos territórios que ainda
se encontram nos lugares onde então
foram sepultados.
A Liga já enviou equipas de
antigos combatentes à Guiné e a Moçambique, onde detectou várias dezenas de
ossadas, as quais, depois de devidamente identificadas, foram depositadas em
locais com dignidade (igrejas e capelas), para aí, serem alvo de homenagem da
parte das autoridades locais e das autoridades diplomáticas portuguesas.
Foi
feito também um protocolo com a TAP para que essas ossadas possam ser trazidas
para Portugal, sem custos para os familiares que o desejem.
6. Programa Passagem do Testemunho – Como
a maioria dos combatentes da Guerra do Ultramar já têm mais de 60 anos de idade
e para que a Instituição Liga dos Combatentes não se extinga por falta de
sócios, a Liga agregou como seus associados os combatentes das operações de paz
e humanitárias e está a realizar uma campanha junto dos elementos da PSP e GNR
e dos alunos dos estabelecimentos
militares de ensino, para os sensibilizar para a importância dos valores morais
e históricos do nosso país e para fazer mais sócios jovens.
Convido pois, todos os camaradas a visitar o Forte do Bom
Sucesso (onde está instalado o Museu do Combatente) e o Monumento aos Mortos do
Ultramar com as suas lápides, onde estão inscritos os nomes de todos os
portugueses que morreram pela Pátria, nessa guerra.
Junto ao Forte está instalado o chamado “Café do Forte”,
onde existe um serviço de cafetaria com esplanada e cadeiras confortáveis, com
vista para o rio e onde se disfruta uma vista e um sossego digno de ser
visitado como acontece já com elevado número de turistas.
Filipe Horácio Pereira Macedo
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