Embora
tenha preferido a navegação terrestre, a verdade é que o Coronel Américo Fernandes
Henriques considerado um emérito especialista em História Militar de Portugal, foi
por algum tempo cadete HC. Nesta condição e com a devida vénia ao autor transcrevemos
a carta que achou por bem enviar aos membros dos Grupos Parlamentares:
“Excelentíssimos e
ilustríssimos membros dos Grupos Parlamentares com assento na Assembleia da República
Portuguesa. Eu, abaixo-assinado, Américo José Guimarães Fernandes Henriques,
Coronel de Infantaria “Comando” na situação de Reforma, venho através desta
carta mostrar a todas Vossas Excelências o quanto a vossa prestação ao serviço
do Povo Português, de quem sois os mais legítimos representantes, me tem
impressionado, comovido e motivado. Operacional do 25 de Abril de 1974,
conspirador no planeamento do Movimento das Forças Armadas (foi em minha casa
que o então Major Otelo Saraiva de Carvalho fez a ultima reunião antes da
Revolução) participante nas acções comandadas pelo então Major Jaime Neves, dei
ao 25 de Abril o melhor de mim próprio, a minha alma de Português, Patriota e
Militar, sem olhar ao risco da minha vida, da minha família e da minha
carreira. Sabia a razão da minha revolta, abraçava com imensa fé a minha
escolha e aceitava plenamente as consequências dos meus actos. Conscientemente,
arriscava tudo para poder devolver ao Povo Português o direito de decidir do
seu destino, a par do direito de se pronunciar livremente sobre a continuação
da nossa secular presença em Africa e da sua participação numa obra politica
magnifica, que levasse, de uma forma pacifica e nobremente aceite, os mais
ricos a serem um bocadinho menos ricos, para que os mais pobres fossem um
“bocadão” menos pobres.
Passaram quarenta anos sobre
aquelas duas horas da tarde do dia 24 de Abril de 1974, em que eu, então um
jovem Tenente chegado de Moçambique, iniciei a minha participação no Movimento,
enquadrado num pequeno grupo de Oficiais instrutores da Academia Militar, todos
eles tão devotadamente empenhados naquela Missão Histórica quanto eu estava,
todos eles tão romanticamente crentes como eu era, todos eles tão Portugueses e
tão Patriotas quanto eu sou. E passaram quarenta anos em que praticamente tudo
aquilo que me levou a sonhar e a participar, a arriscar e a sofrer (fui preso
no 11 de Março de 1975 como um perigoso fascista, tive a casa assaltada e a
família roubada na reforma agrária, vi os meus tios e primos retornados de
Africa… participei no 25 de Novembro) praticamente tudo, TUDO, miseravelmente
traído, corrompido, destroçado, pela incompetência, pela leviandade, pela
ausência de valores e pela maldade do bando de hipócritas e de salafrários a quem,
inocentemente (mas nem todos…) abrimos as Portas de Portugal.
E passaram quarenta anos em que
a Democracia Portuguesa evoluiu para a “partidocracia”, para aquela feira de
vaidades manhosa e corrupta a que o Senhor D. Pedro V chamava (e bem!!!)
“canalhocracia”, e onde o Poder Politico, sem perguntar NADA a NINGUÉM, nos foi
metendo na “alhada” mais vertiginosa da nossa História, dessa mesma História
que foi negada ao conhecimento de duas gerações de Portugueses por decisão
desse mesmo Poder Politico, dessa mesma História que hoje vê Portugal tratado
abaixo de cão, insultado na praça pública, devedor de chapéu na mão e
ultrajado, miseravelmente ultrajado dentro da própria casa, por um bando de
lacaios de uma potência estrangeira. Excelentíssimos Senhores. Ciente de que o
meu grito de revolta vos vai passar alegremente ao lado, e de que a vossa
preocupação constante na condução perfeita e justa dos destinos da Pátria
Portuguesa não vos deixará um minuto sequer para meditar sobre a revolta deste
Militar reformado que vos importuna o trabalho, apenas vos peço que anoteis na
vossa agenda de assuntos marginais que um dos homens que arriscou a vida, a
família e a carreira, para vos ter sentados nas cadeiras do Poder e nas
bancadas do Parlamento, está muito zangado com todas Vossas Excelências, e só
reza a Deus pelo dia em que (de forma pacifica é claro!!!!) veja Vossa
Excelências pelas costas, e a prestar contas à Nação Portuguesa. Atentamente e
com a devida consideração
a) Américo José Guimarães
Fernandes Henriques Coronel de Infantaria (Cmd) Reformado”
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