ALOCUÇÃO AO CORPO DE ALUNOS DA ESCOLA NAVAL
EM NOME DO CURSO HERMENEGILDO CAPELO
PELO ENG. JOÃO MANUEL GOMES DE OLIVEIRA
ALFEITE, 9 DE OUTUBRO 2014
Cadetes,
É para mim uma
honra e um prazer ter esta oportunidade de vos dirigir algumas palavras, nesta data
que marca a entrada na Escola Naval dos cadetes do Curso Hermenegildo Capelo, o
que aconteceu há exatamente 50 anos no dia 1 de setembro passado. Agradeço aos
meus camaradas e amigos o terem-me pedido para vos representar nesta Cerimónia
tão significativa, que nos faz reviver
tantas recordações, e que também por isso nos emociona. Todos estamos muito
agradecidos à Escola Naval por nos ter convidado a participar nesta importante data
de celebração, e pela maneira calorosa com que nos acolheram.
Cadetes, é
extraordinário pensarmos em termos de 50 anos, meio século! O Mundo mudou tanto
neste meio século! Só para citar alguns acontecimentos dos últimos 50 anos,
lembremos:
A chegada do
Homem à Lua. O 25 de Abril. A União Europeia e o euro. Os inúmeros conflitos em
vários continentes com tanto sofrimento, violência e destruição. Uma diferente balança
de relações internacionais. O progresso extraordinário no domínio dos
computadores e das telecomunicações. A internet. A globalização. Os avanços no
campo da medicina.
Certamente
mudanças da mesma envergadura e alcance irão também ser sentidas nos próximos
50 anos, quando vós, cadetes aqui presentes, ireis saudar as gerações futuras.
Cadetes, vós
tereis que estar preparados para este novo Mundo em evolução permanente. Mas é
importante terem sempre presente o que não muda e permanece. Não mudam e
permanecem os conceitos básicos que aprendemos na Escola Naval e a preparação
que adquirimos para a nossa vida profissional.
Penso em
particular na disciplina, no espírito de corpo, na camaradagem, na
solidariedade e nos fortes laços de amizade que entre todos, através dessa
formação, são criados.
Penso na preparação para exercer a liderança, para tomar
decisões em situações difíceis e sob condições incertas.
Penso na
capacidade de organização, de definir objectivos.
Penso no
cumprimento de uma missão, solidariedade, apoio e dedicação na ajuda aos que
estão em perigo no mar.
Estes são
princípios fundamentais para um a vida profissional exemplar, para uma vida
profissional em que poderão dizer aos vossos filhos e netos que contribuíram para
um a sociedade justa e mais humana.
O mar é uma
realidade extraordinária para Portugal, uma notável Nação marítima, que tem
entre Portugal Continental, a Madeira e os Açores uma superfície marítima, em
termos da Zona Económica Exclusiva ou ZEE, que é quase 20 vezes superior à
superfície terrestre. Se incluirmos a plataforma continental para além das 200
milhas, uma iniciativa que o Governo Português está a tomar junto das Nações
Unidas, o território subaquático chega
quase aos 4 milhões de quilómetros quadrados, ou cerca de 40 vezes a superfície
terrestre! O que é extraordinário é que nos nossos dias e apesar dos avanços da
ciência, o mar continua a ser essencialmente desconhecido. O seu fundo continua
a ser inacessível, consequência de temperaturas e pressões excessivas e dum
relevo submarino extremamente acidentado e irregular.
O mar é uma
fonte enorme de vastos recursos naturais ainda por explorar, em áreas como a
biotecnologia marinha, a extração de recursos geológicos não energéticos, a
exploração e a produção de petróleo e gás natural, as energias renováveis. O
mar é fundamental para o transporte de mercadorias entre continentes.
Numa
publicação do Departamento de Engenharia Mecânica do M.I.T, prestigiosa
Universidade Americana, afirma-se que “ como 95% do oceano ainda está por
explorar, ainda há muito que não conhecemos. O futuro previsível do oceano
apresenta enormes desafios de engenharia para aperfeiçoarmos a nossa capacidade
de investigar, compreender e operar neste meio relativamente inexplorado. No entanto,
à medida que vamos poder utilizar os recursos e oportunidades que os oceanos
têm para oferecer, mais nós temos a responsabilidade de os proteger”.
E,
cadetes, sublinho aqui a tema de proteção
dos recursos do mar, componente essencial da vossa vocação. Proteção num
sentido de segurança, mas também num sentido de meio ambiente e valor
económico.
Em suma, o mar
é uma realidade de enorme valor económico para Portugal. A sua defesa e proteção
são essenciais, não só para o nosso País como para o Mundo. A vossa vocação é
de louvar, merece grande respeito e reconhecimento. A vossa contribuição futura
para o nosso Pais é notável.
Cadetes, como
disse antes grandes mudanças certamente irão acontecer nos próximos 50 anos ou meio
século, mas nunca se esqueçam que conceitos e valores fundamentais que aprendem
através destes anos de formação na Escola Naval, serão sempre de grande valor
para o vosso futuro e o vosso sucesso. Eu e os meus camaradas do Curso HC
queremos que tenham um futuro próspero e que sintam que contribuíram duma forma
real para a sociedade. Queremos que se sintam realizados. Que nunca se esqueçam
que a forma de alcançar uma vida profissional rica é de respeitar sempre princípios
fundamentais, alguns dos quais vou citar:
·
Sempre demonstrar altos
valores de ética e moral, honra, integridade e honestidade,
·
Respeitar os outros
e estar pronto a ajudar os mais desfavorecidos,
·
Assumir responsabilidade
pelos seus atos,
·
Ter iniciativa, não
aceitar a comodidade da rotina, mas identificar possibilidades de aperfeiçoamento
e melhoria das atividades em curso,
·
Nunca abandonar a
confiança no futuro, mesmo quando surgem situações de adversidade,
·
Sempre ter uma
atitude positiva mas realista, em que erros são reconhecidos e não escondidos, ao
mesmo tempo que alternativas e possíveis
soluções são sempre consideradas.
Cadetes, em
nome do Curso HC nós vos desejamos um futuro próspero e o maior sucesso na
vossa carreira. Foi para nós uma honra ter esta oportunidade de vos transmitir
os nossos votos sinceros de sucesso. O vosso futuro será brilhante, a vossa
Missão é de grande relevo e é motivo de orgulho para Portugal.
Não posso
acabar sem evocar os nossos queridos camaradas que nos deixaram precocemente,
por doença ou acidente. Pensaremos sempre neles e teremos a sua memória sempre nas
nossas recordações. Como tal, estão hoje presentes nesta Cerimónia.
Para terminar
tenho aqui que repetir palavras simples mas de grande significado que estão
presentes no Portal da Escola Naval: “Servir na Marinha é ser herdeiro de um
legado com mais de nove séculos ao serviço de Portugal, e fazer parte duma
nacionalidade, onde antigos marinheiros descobriram o mundo, e tu podes
descobrir uma vocação”.
Muito obrigado.
JOÃO GOMES DE OLIVEIRA
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