sábado, 29 de maio de 2021

NOTÍCIA HC

Com a devida vénia partilhamos um artigo do nosso camarada Lopo Cajarabille, publicado em 2013 na Revista da Armada, que talvez possa contribuir para as reflexões a fazer sobre reestruturações das Forças Armadas a vários níveis.

 UMA EXPERIÊNCIA FALHADA 

Em 1 de fevereiro de 1968 realizou-se uma reforma nas forças armadas do Canadá extremamente ousada.

Em resultado da persistência e da vontade política do Ministro Paul Hellyer, antigo oficial da Força Aérea Canadiana, a Marinha, o Exército e a Força Aérea deixaram de existir como entidades independentes.

Perante a surpresa do mundo ocidental, foi criada uma organização única intitulada “Canadian Armed Forces”, sem distinção de Ramos.

O conceito parecia simples e foi entendido como vantajoso pelo Governo do Canadá, após aturadas discussões a vários níveis. A unificação dos três Ramos pouparia dinheiro para comprar melhor equipamento. Por outro lado, seria uma forma de acabar com as rivalidades entre os serviços. Os Ramos poderiam assim treinar e combater em conjunto e usar equipamento semelhante, esquecendo-se as enormes diferenças que havia nestes aspetos. No caso específico da Marinha, pretendia-se também dissolver os resíduos de influência britânica, com raízes históricas, que até se notava na sua designação – Royal Canadian Navy.

Foi criado um Comando de Instrução para recrutar e dar a formação inicial a todo o pessoal militar. O Comando do Material passou a ser responsável pela aquisição, armazenamento e distribuição de sobressalentes para todas as unidades.

Todos os militares passaram a usar os mesmos uniformes (verdes, do Exército) e a adotar os mesmos postos (do Exército).

Pensava-se que os Ramos individualizados não eram capazes de enfrentar os desafios do futuro. Apenas um comando unificado, apoiado num staff que pudesse controlar todo o planeamento e as operações, subordinado a um Conselho Superior de Defesa, dirigido pelo Ministro da Defesa Nacional, poderia atuar com uma visão nacional e formular soluções unificadas para os problemas de defesa nacional.

Curiosamente já tinha havido uma tentativa semelhante no final da I Guerra Mundial, mas foi abandonada após a II Guerra Mundial.

A Marinha foi o Ramo que mais resistiu, o que conduziu a várias exonerações, dos que não aceitaram a mudança, nomeadamente o muito respeitado Contra-almirante Landymore, o mais antigo dos comandantes operacionais. Vendo-se impotentes para resistir à vontade política, os oficiais, sargentos e praças sob o comando do CALM Landymore, juntamente com outros, resolveram manifestar-lhe publicamente o seu apreço. Formaram duas extensas alas de militares para a passagem do Almirante à saída do comando e ovacionaram-no longamente, com muitas lágrimas á mistura.

Estando embarcado na fragata “Magalhães Corrêa”, tive ocasião de participar na STANVFORLANT em 1976, que contava também com um navio canadiano, o DDG “Huron”. Lembro-me bem da simpatia dos oficiais do Canadá, mas era visível o descontentamento por usarem um uniforme tão diferente das outras marinhas e já terem pessoal a bordo indiferenciado. Quem conhece este ambiente pode imaginar o gozo e as piadas constantes por parte dos britânicos, americanos, alemães e, evidentemente, dos portugueses.

O divertimento atingiu o auge quando foi organizada uma operação multinacional, (julgo que liderada por alemães) para “roubar” um enorme índio de madeira que estava orgulhosamente colocado na câmara de oficiais no navio canadiano. Um grupo provocou uma distração e outro grupo pegou no índio e fê-lo arriar para uma embarcação que, silenciosamente, encostou no bordo do lado do mar da “Magalhães Corrêa”, que estava atracada ao “Huron”. Os oficiais canadianos não deram por nada, mas não acharam graça ao sucedido, até porque foi encarado como uma falha de segurança pouco desculpável.

Depois de várias diligências, e passados um ou dois dias, lá foi organizada uma escolta, que transportou o índio em marcha militar pelo cais, recuperando-o do navio alemão onde estava guardado. Claro que as cervejas e o vinho tinto alimentaram as gargalhadas e faziam tirar a conclusão de que a ocorrência só foi possível, porque eles não eram verdadeiros marujos.

Quais foram os resultados da reforma, certamente muito bem intencionada?

As poupanças nunca existiram e os novos equipamentos não foram comprados, nos termos em que se preconizavam. A desmoralização da ex- Marinha foi enorme, mas também afetou os outros ex-Ramos.

Passados alguns anos foram restaurados os postos tradicionais na Marinha e, em 1985 (17 anos após o início da reforma) foram também recuperados os uniformes habituais da Marinha. Em 2010, os oficiais puderam usar novamente o óculo nos seus galões. Finalmente, em Agosto de 2011, os Ramos readquiriram a sua individualidade. Renasceu a “Royal Canadian Navy”. Os veteranos tinham lutado muitos anos para o conseguir, sob o lema: RESTORE THE HONOUR!

Recentemente fizeram-se vários ajustamentos à organização da Marinha, no sentido inverso ao que tinha sido feito a partir de 1968 e é possível que a tendência continue.

Como foi possível que isto acontecesse num país que é dos mais desenvolvidos e dos mais respeitados do mundo pelo elevado nível educacional e cultural? Os custos desta experiência podem ser determinados?

Talvez se possa encontrar alguma explicação, fazendo um paralelo com alguns dos princípios que aprendemos na teoria geral da estratégia, usando um raciocínio semelhante.

Dos três grandes princípios com maior aceitação geral, há dois que interessa considerar neste caso. A importância do objetivo e a economia do esforço.

O primeiro obriga-nos a pensar fundamentalmente na adequabilidade da estratégia. Se a estratégia não for adequada não traça o rumo certo relativamente aos objetivos a alcançar, desviando-se para outros alvos. Trata-se portanto de uma questão de eficácia, ou seja, em que grau os objetivos poderão ser atingidos.

O segundo princípio apela essencialmente à poupança de meios, ou seja, a obtenção de um determinado resultado com o mínimo de recursos. É o que se pode traduzir por eficiência.

 A melhor estratégia será a que promete a maior eficácia e a maior eficiência. O problema é que a eficácia e a eficiência nem sempre andam a par. No caso em apreço, valorizou-se de tal modo a eficiência, que se perdeu de vista a eficácia.

Há um conhecido estrategista, Colin S. Gray, que atribui maior peso à eficácia do que à eficiência. Quer isto dizer que o objetivo é tão importante que mais vale gastar demasiado para o alcançar, do que consumir recursos e não ter o sucesso esperado.

De facto, os cálculos apontavam para menores custos agregando as principais estruturas dos Ramos e reforçando o poder político. Só que as poupanças não foram tão consideráveis como se pensava e não se contabilizaram outros fatores cuja avaliação quantitativa é muito complexa ou mesmo impossível. Estão neste caso, a identidade dos Ramos, o moral do pessoal, o sentido de pertença, a solidariedade, o significado de um uniforme, o imaginário de um tipo de serviço, etc. Outra importante constatação foi a falta de missões verdadeiramente conjuntas de razoável dimensão, a cargo das forças armadas do Canadá.

Tudo isto nos deve obrigar a meditar profundamente. Não sendo possível, obviamente, apresentar um estudo bem estruturado, limito-me a apresentar apenas algumas contribuições para a análise do assunto.

Será bom não esquecer que o “conjunto”, no âmbito militar, é um conceito de aplicação fundamentalmente operacional. Diz respeito a atividades operacionais em que participam dois Ramos, pelo menos, sob a responsabilidade de um comandante. Isto é, o conjunto justifica-se quando se revela melhor do que a soma das partes. Todavia, a maioria dos países, entre os quais Portugal, não dispõem de capacidades que permitam realizar operações realmente conjuntas, com uma dimensão significativa, em tempo de paz. Como exceção, identifica-se a vigilância e controlo dos espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional, que tem caraterísticas muito próprias e exige articulação entre a Marinha, a Força Aérea e outras entidades. Mesmo em tempo de guerra, a única missão verdadeiramente conjunta que poderá ser necessária é a defesa do território nacional. Nesse caso, tudo se altera.

As operações conjuntas, quando viáveis, justificam-se pelos ganhos de eficácia e, duma forma geral, ganhos de eficiência.

Um outro tipo de agregação obedece ao conceito de “integrado”, que não tem aplicação normal no âmbito operacional, mas sim no quadro das infraestruturas. As organizações integradas não apresentam ganhos de eficácia significativos em relação à soma das partes, mas são pensadas para obter ganhos de eficiência (fazer o mesmo com menos recursos).

Por exemplo, um sistema de pagamento integrado não será mais eficaz do que um sistema repartido, pois todos continuam a receber o mesmo e atempadamente. Mas, será mais eficiente se exigir menos recursos humanos e materiais e prestar o mesmo serviço.

Acontece por vezes que se provocam integrações que mais tarde se revelam bastante menos eficazes, apesar de pouparem recursos. É que, a avaliação de certos parâmetros de eficácia nem sempre é fácil e evidente. Foi isto, em grande parte, o que provocou a amargura da Marinha do Canadá.

Participei num dos grupos de oficiais que discutiram os resultados do 1º ano comum das Academias Militares em Portugal. A multiplicidade de elementos demonstrou claramente que a solução não era favorável, nem em termos de eficácia, nem em termos de eficiência, por várias razões. Houve então a sensibilidade que levou à decisão política de terminar a experiência, apesar de algumas vozes que insistiam na possibilidade de melhorar a eficiência para provar a vantagem da integração, esquecendo completamente a eficácia.

Também acompanhei a fusão dos Institutos Superiores dos Ramos. Nesse caso, parece-me que todos ganharam relativamente aos objetivos em presença. De facto, os cursos e a preparação ministrada sofreram um salto qualitativo, que parece indesmentível. Todavia, há quem admita que se gastam mais recursos agora do que quando as escolas estavam separadas. Nunca vi essas contas, mas a eficácia conseguida julgo que justifica a integração.

Tirar conclusões definitivas é sempre um exercício muito arriscado quando estão em causa organizações tão complexas como os Ramos das Forças Armadas e a sua articulação. Afastando a hipótese de tentar definir receitas, julgo que há dois elementos que devem estar sempre presentes em qualquer reestruturação das Forças Armadas. O estudo exaustivo de todas as componentes do problema e uma dose considerável de prudência.

Não podemos partir do princípio simples de que um é melhor do que três, em todas as circunstâncias, mesmo que haja bons indícios de poupança significativa. Por vezes, a poupança é aparente e perde-se de vista o objetivo.

No âmbito das Forças Armadas, a redundância crítica é indispensável para garantir a operacionalidade em condições de emergência. Certas funções devem ser duplicadas, apesar de serem mais dispendiosas. Os navios da Marinha são construídos com estas preocupações. Um sistema de comunicações único constitui uma vulnerabilidade inaceitável. As principais infraestruturas de apoio não devem ser integradas sem redundâncias, pelo menos no que respeitas às funções básicas. Caso contrário, um simples fenómeno natural pode determinar ruturas e desarticulações irremediáveis. Os hospitais militares inserem-se nesta classificação.

O ponto de partida não pode ser negligenciado. Pode ter havido anteriormente investimentos avultados de dois ou três Ramos e propõe-se integrar algo porque vai sair mais barato, mas ainda requer um investimento adicional. Verifica-se depois que o que se ganha não chega para justificar o desperdício dos investimentos feitos.

As situações particulares, não raras, podem também alterar os dados do problema. A localização, o meio, as distâncias, a rapidez de acesso, a frequência de uso, etc, constituem elementos que podem recomendar a unificação ou a separação de estruturas.

Talvez o mais importante seja o exame minucioso dos fatores intangíveis, para que a procura constante da eficiência, que é um bom princípio, não possa produzir a amargura que ofusca a razão de ser.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

EVENTOS DE JUNHO

Encontro mensal no CMN terça-feira, dia 22. Rendez-vous pelas 12.15h, seguido de almoço pelas 13.00h.

Aniversários:

12 -  (1946) --- Pedro Amarílio POMBO RAMALHO 

19 -  (1945) --- Luís António  PROENÇA MAIA

20 -  (1946) --- Luís MEDEIROS ALVES 

23 -  (1943) --- Carlos M. VASCONCELOS CARRASCO

26 -  (1945) --- José Antelmo  VENÂNCIO CORREIA

30 -  (1945) --- Victor Manuel  LOPO CAJARABILLE

Aos aniversariantes enviamos forte abraço e votos de um feliz dia.

O GT HagaCê 

terça-feira, 25 de maio de 2021

ENCONTRO MENSAL - MAIO

 Conforme anunciado mais um convívio da Tertúlia que não se realizou. Como anteriormente, para matar saudades, recorremos ao encontro de MAI2011 recordando a ata de então: 

“Conforme planeado e amplamente divulgado realizou-se hoje, 24MAI, o nosso convívio mensal, com um almoço no Clube.Apresentaram-se à chamada os Venâncio, Centeno, Sadler, Macedo e Carrasco.O Macedo confraternizou mas não almoçou, por ter compromisso na LC.Apresentaram justificação o Sacadura, o Brasão e o Ferreira que ainda se encontra a banhos no Brasil.”

O GT HagaCê

sexta-feira, 21 de maio de 2021

TERTÚLIA HC

Prezados camaradas e amigos

O GT considera que ainda não é aconselhável realizar o próximo almoço convívio da Tertúlia agendado para 25MAI no CMN. Embora decorram medidas de desconfinamento vamos esperar mais um mês para ajuizar da sua consolidação.

Saudações navais,

O GT HagaCê