quinta-feira, 17 de outubro de 2013

LIGA DOS COMBATENTES


O artigo que recentemente publicámos em cinco capítulos, da autoria do nosso camarada Filipe Horácio Pereira Macedo, não permitiu uma leitura seguida tendo retirado algum interesse aos seus leitores. Assim, por sua sugestão, optamos por o reeditar numa forma global. 

LIGA DOS COMBATENTES 

Preâmbulo 

Em Novembro de 2003 quando passei à situação de reserva, fui chamado ao Superintendente dos Serviços de Pessoal que me perguntou se queria prestar serviço na Liga dos Combatentes.
Como conhecia muito pouco daquela instituição, só sabia que era para apoiar “os combatentes e seus familiares que restavam da I Grande Guerra”, pedi para me informar mais a fundo sobre os seus objectivos e finalidades e só passados alguns dias aceitei o “repto”.
E, como penso, que muitos camaradas de Marinha pouco sabem do que faz a Liga dos Combatentes, lembrei-me de dar uma ideia do que é hoje esta instituição quase secular (foi criada em 1923 por três militares, dois do Exército e um de Marinha) que sentiram a necessidade de apoiar os milhares de soldados que voltavam da I Grande Guerra mutilados e estropiados e que precisavam desesperadamente de apoio médico e social, devido às doenças e traumas sofridos durante o período em que estiveram em França.
 A maior parte destes combatentes que regressaram à Pátria (o efectivo de combatentes nesta Guerra de 1914/1918 foi de 55.165 homens em que mais de 3000 terão morrido em combate), vinham com gravíssimos problemas nos pulmões (gaseados) devido aos bombardeamentos com gás que os alemães fizeram nos últimos anos de guerra e também com graves ferimentos nos pés e pernas devido à permanência prolongada nas trincheiras com os pés e pernas mergulhados em água e lama geladas.
Mais tarde após a Guerra do Ultramar (1961/1975), em que estiveram envolvidos mais de 700.000 militares portugueses e em que pereceram cerca de 10.000 homens (4000 em Angola, 3000 em Moçambique e 3000 na Guiné), o esforço da Liga passou a dirigir-se a estes antigos combatentes que na maioria dos casos também foram abandonados à sua sorte, com todo o tipo de mazelas físicas e psicológicas associadas aos traumas da guerra em África.
A Liga tem actualmente mais de 50.000 sócios que estão afectos a mais de 100 Núcleos ao longo do País e do estrangeiro, pois existem já Núcleos da Liga no Canadá (3), em França (5), em Cabo Verde e na Guiné-Bissau.
 
Principais objectivos da LC

1.    Promover os valores, nomeadamente o amor à Pátria e a divulgação, em especial entre os jovens, do significado dos símbolos nacionais, bem como a defesa intransigente dos valores morais e históricos de Portugal;
2.   Promover o prestígio de Portugal, designadamente através de acções de intercâmbio com associações congéneres estrangeiras;
3.    Promover a protecção e auxílio mútuo e a defesa dos legítimos interesses espirituais, morais e materiais dos sócios;
4.   Cooperar com os órgãos de soberania e a administração pública no que respeita à adopção de medidas de assistência a situações de carência económica dos associados e de recompensa àqueles a quem a Pátria deva distinguir por actos ou feitos relevantes prestados ao seu serviço.
5. Criar, manter e desenvolver departamentos ou estabelecimentos de ensino, cultura, trabalho e solidariedade social em benefício geral do país e directo dos seus associados. 

Órgãos centrais da LC 

A Liga dos Combatentes exerce a sua actividade através dos seus Órgãos centrais e dos seus Núcleos.
São os seguintes os Órgãos centrais:
1.    Conselho Supremo – Órgão consultivo para assuntos relacionados com a actuação, funcionamento e organização da Instituição.
     Os seus membros são eleitos pela Assembleia Geral e são em número igual ou superior a 10 e inferior a 20.
2.    Órgãos de eleição por mandato:
- Assembleia Geral e assembleia de Núcleos
- Direcção Central - Constituída por um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário-Geral, sete vogais dos quais dois são administrativos e um Secretário                                                                                     
     - Direcções dos Núcleos – constituídas por um mínimo de 5 elementos, sendo um Presidente, um  Tesoureiro e três vogais.
- Conselho Fiscal     

Sócios

A Liga admite como sócios todas as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras que professem o ideário da instituição e que se disponham a servi-la, contribuindo com o seu patrocínio e o seu esforço ou auxílio monetário para a manutenção e funcionamento da mesma.
Agrupam-se nas seguintes categorias:   
-    Sócios combatentes – os cidadãos nacionais ou estrangeiros que prestem ou tenham prestado serviço nas Forças Armadas Portuguesas e os elementos das forças de segurança que tenham participado em missões de defesa, de segurança, de soberania, humanitárias e de paz ou cooperação.
-    Sócios efectivos – os cidadãos que prestem ou tenham prestado serviço nas Forças Armadas Portuguesas, mas que não preencham as condições referidas no nº anterior.
-    Sócios extraordinários – os cônjuges, os cônjuges sobrevivos e os ascendentes e descendentes até ao 2º grau dos sócios combatentes e dos sócios  efectivos.
-    Sócios honorários – as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras, a quem, por mérito ou pelos serviços relevantes prestados à Pátria ou à Liga dos Combatentes, a Assembleia Geral confira esse título.
-    Sócios beneméritos – as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras, a quem, por actos praticados em benefício da Liga dos Combatentes ou dos seus associados, a Direcção Central atribua essa qualidade.
-    Sócios apoiantes – as pessoas singulares ou colectivas, nacionais ou estrangeiras, que apoiem de forma regular com donativos ou quotização os núcleos em que estejam filiados.

Programa de actividades

A Liga prossegue actualmente um programa de actividades muito diversificado, em conjunto com os seus Núcleos que está centrado em 6 grandes projectos estruturantes que são :
1. Programa Liga Solidária – pretende centrar-se na construção de Lares de 3ª Idade e Creches para os combatentes e seus familiares.(Já existem lares no Porto, em Coimbra e em Estremoz e existem projectos para mais Lares que  estão dependentes de apoios financeiros).
2. Programa Cuidados de Saúde – tem por finalidade apoiar os antigos combatentes nos cuidados médicos a prestar nos locais ou perto das suas residências, com a criação de CAMPS- Centros de Apoio Médico, Psicológico e Social, que são constituídos por uma equipa com um médico de clínica geral, um psicólogo, uma assistente social e uma enfermeira que nos Núcleos ou nas suas proximidades dão apoio aos respectivos sócios. Existem actualmente CAMPS em Chaves, no Porto, em Coimbra, em Manteigas, em Lisboa, em Évora, em Beja e em Loulé e ainda GAMPS (Grupos de Apoio Médico, Psicológico e Social em Ponta Delgada, em Angra do Heroísmo e no Funchal).
3. Programa Cultura, Cidadania e Defesa – é um programa centrado no Forte do Bom Sucesso que foi cedido à Liga dos Combatentes e onde se realizam eventos de vária ordem (exposições, lançamento de livros, colóquios, etc e onde está localizado o Museu do Combatente com armamento e peças dos ramos das Forças Armadas e das Forças de Segurança.
     Junto ao Forte do Bom Sucesso está o Monumento aos Mortos do Ultramar em cujas paredes estão lápides com os nomes dos dez mil portugueses que morreram em combate pela Pátria e onde são realizadas as cerimónias de homenagem a esses Portugueses que pereceram no cumprimento do dever. Este Monumento é alumiado por uma chama de azeite votivo, sempre acesa, em homenagem ao soldado desconhecido e uma guarda permanente de militares dos três ramos das Forças Armadas (um ramo em cada mês), que realizam a cerimónia do render da guarda perante os visitantes daquele lugar sagrado. 
4. Programa Inovação e Modernização – È um programa sempre activo, que visa actualizar e modernizar todos os Núcleos da Liga dos Combatentes, que são já mais de 110, incluindo os do estrangeiro, com comunicações e meios informáticos actualizados, permitindo ligar todos os Núcleos entre si e com a sede da instituição em Lisboa.
5. Programa Conservação das Memórias – É um programa que visa recuperar as ossadas de milhares de soldados que morreram ao serviço da Pátria e que ficaram sepultados nos territórios em que pereceram. Estima-se em mais de 2000 os corpos inumados nos antigos territórios que ainda se encontram nos  lugares onde então foram sepultados.
A Liga já enviou equipas de antigos combatentes à Guiné e a Moçambique, onde detectou várias dezenas de ossadas, as quais, depois de devidamente identificadas, foram depositadas em locais com dignidade (igrejas e capelas), para aí, serem alvo de homenagem da parte das autoridades locais e das autoridades diplomáticas portuguesas.
     Foi feito também um protocolo com a TAP para que essas ossadas possam ser trazidas para Portugal, sem custos para os familiares que o desejem.
6. Programa Passagem do Testemunho – Como a maioria dos combatentes da Guerra do Ultramar já têm mais de 60 anos de idade e para que a Instituição Liga dos Combatentes não se extinga por falta de sócios, a Liga agregou como seus associados os combatentes das operações de paz e humanitárias e está a realizar uma campanha junto dos elementos da PSP e GNR e dos  alunos dos estabelecimentos militares de ensino, para os sensibilizar para a importância dos valores morais e históricos do nosso país e para fazer mais sócios jovens. 
 
Convido pois, todos os camaradas a visitar o Forte do Bom Sucesso (onde está instalado o Museu do Combatente) e o Monumento aos Mortos do Ultramar com as suas lápides, onde estão inscritos os nomes de todos os portugueses que morreram pela Pátria, nessa guerra. 
Junto ao Forte está instalado o chamado “Café do Forte”, onde existe um serviço de cafetaria com esplanada e cadeiras confortáveis, com vista para o rio e onde se disfruta uma vista e um sossego digno de ser visitado como acontece já com elevado número de turistas.
 
       Filipe Horácio Pereira Macedo

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